Atividades

- Palestras – Com temas plásticos para adequar ao tipo de publico e interesses específicos. Demonstrando também a conexão com outras áreas do conhecimento.

- Demonstrações com práticas e experimentos - Aproximação de teoria e prática, tornando conceitos e idéias em noções mais concretas e palpáveis.

- Resgate da sensibilidade em relação à natureza

- Construção da noção de interdependência dos processos cíclicos do meio e de auto-inserção no ambiente natural e conseqüente valorização de relações de apoio mútuo e reciclagem

- Ser humano enquanto fauna e sua relação com o resto desta; biocentrismo; tráfico e exploração de animais.

- Sustentabilidade

- Teatros ecológicos ( faixa etária mais jovem).

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Política da Horta Vertical

Como conseguimos demonstrar na Feira Cultural no colégio Faria Brito no dia 25 de outubro de 2010 e no post anterior, as utilidades práticas das hortas verticais são diversas. No entanto, diversas outras questões permeiam a idéia de forma, digamos, subjetiva. Além da importante possibilidade de se dar um fim (tanto mais útil quanto menos danoso ao ambiente) às garrafas PET, do que simplesmente soterrá-las em um aterro sanitário, o simples fato de estar cultivando parte de seus alimentos evoca pontos de reflexão pertinentes e cada vez mais necessários. A própria familiaridade com o processo de produção (industrial ou natural) de alimentos é algo que escapa à grande maioria das pessoas.
Tratando-se de algo tão essencial e obrigatório à existência quanto alimentos, devemos concordar que é no mínimo peculiar e curioso, para ser eufemístico, que a maior parte das pessoas não tenha o menor conhecimento sobre como estes chegam até ela ou, para tentar ser justo com as condições de contexto, que a compreensão quanto a isso se limite ao processo de trocar pedaços de papel por alimentos embalados em um supermercado. Vale também apontar que com toda a facilidade de acesso à informação que toda essa tecnologia que conhecemos hoje nos possibilita, essa falta de conhecimento se deva muitas vezes, se não à maioria, à uma simples falta de interesse. Compreensível, visto que a forma como nossa vida social se estruturou ao longo de todos esses séculos permite que alguém que não tenha tal conhecimento, ainda assim obtenha alimento. Porém, a questão é: a que custo? Essa é a pergunta que tentarei responder ao longo do texto.
A definição de cidade é variável. Visto a natureza deste texto, a definição dada por Derrick Jensen¹ se faz bem apropriada: cidades seriam uma “coleção de pessoas grande o suficiente para requerer a importação de recursos.” Segundo ele, então, cidades seriam intrínsecamente insustentáveis uma vez que se você precisa importar um recurso de outro lugar, significa que você já gastou todo esse recurso da sua região, muito provavelmente ao custo de tê-la devastado. Sob essas condições, automaticamente gera-se a necessidade de criar uma rede de transportes que tragam esses recursos de outros lugares para a cidade. No caso específico dos alimentos, não é apenas uma questão de quantidade, mas também de possibilidade. O mínimo que todos sabemos – ou que eu gostaria de acreditar que sabemos – é que para existir alimento, é preciso existir terra (inovações tecnológicas à parte, até por que, dentro da lógica aqui colocada, são facilmente comprovadas não-sustentáveis). Historicamente, o destino de todas as cidades – e todas “elas” parecem almejar isso – é alcançar o status de bolha de concreto, e sem dúvidas uma bolha de concreto não comporta a produção de alimentos, muito menos de vida de forma natural. Associado ao distanciamento de seus habitantes do mundo natural, levando, ao longo das gerações, à perda de conhecimentos relativos ao seu relacionamento com a natureza e seus ciclos naturais (incuído aí o ciclo de vida de espécies utilizadas na alimentação) bem como o surgimento da necessidade de novos tipos de conhecimento específicos ao ambiente de cidade, sua produtividade local é drasticamente reduzida. Como alternativa, e de acordo com a idéia de importação de Derrick Jensen, as cidades dependem dos alimentos produzidos no campo. O reflexo de tal condição pode ser visto na desconexão quase que completa (em um sentido psicológico/cognitivo) do mundo natural. Por conta dessa desconexão, fenômenos como a “corrida alimentícia” de Daniel Quinn² tornam-se mais propensos a acontecer. Ecologicamente falando, todas as espécies existentes mantém uma relação recíproca de controle entre disponibilidade de alimento e densidade populacional. O número de indivíduos de uma população nunca pode exceder a capacidade de fornecimento de alimentos do meio natural. Caso isso ocorra, alguns indivíduos não conseguem se alimentar e são naturalmente eliminados, estabilizando a densidade da população. Nós, seres humanos, conseguimos “superar” esse controle, e fizemos isso através da agricultura, ou na visão de Daniel Quinn, da agricultura totalitária. Assumindo o controle da produção de alimentos a ponto de não mais dependermos das condições do meio. Caso a quantidade disponível não seja suficiente, simplesmente investimos em sua produção e obtemos mais.
É importante observar que as cidades são pilares do desenvolvimento da civilização, assim como, e talvez justamente por esse motivo, a ciência tecnicista. A ciência sempre esteve à serviço da civilização, e considerando a já mencionada importância inquestionável dos alimentos, sua produção e desenvolvimento sempre foi um dos focos principais do conhecimento científico. O problema é que dada a natureza especifista e compartimentarizadora de nossa educação, a qual a própria ciência propagou, esse conhecimento, nas cidades, concentra-se na mão de especialistas. Na verdade, essa é uma tendência que não se restringe à questão dos alimentos. A especialização está presente em todas as áreas de nossas vidas. Qualquer análise superficial dos rumos da academia científica e nichos profissionais demonstra isso. Consequentemente, devido à demanda de tempo, energia e dedicação, associadas à outras questões burocráticas surgidas com o advento das cidades e do sistema financeiro, a especialização faz com que releguemos outras funções e necessidades (moradia, água, política, alimento, serviço sanitário...basicamente depende da área de trabalho em que você está inserido e que impede que se envolva em outras) à outras pessoas (fortalecendo ainda mais a “necessidade” de uma democracia representativa). A especialização ao nível extremo que chegamos prejudica a capacidade de percepção da realidade, fragmentando-a, gerando indivíduos incapazes de desenvolvimento de discurso crítico efetivo. Imagine então as consequências de termos o foco de demanda concentrada por alimentos (cidades) desassociado do foco de produção (campo) a ponto dos integrantes do primeiro foco terem atingido um estado de alienação quanto aos processos dos quais intrínsecamente dependem. A noção de causa/consequência relativa à superexploração das terras e crescimento populacional desenfreado se esvai, os termos das reações aí envolvidas tornaram-se abstratos já há alguns séculos.
Chegado a esse ponto, imagino eu, fica claro ser necessária uma reflexão mais aprofundada sobre as questões ambientais, que transpasse o usual, e atualmente popular, discurso sobre sustentabilidade. Serge Latouche, um auto-proclamado discípulo de Ivan Illich³ e que ilustra quase graficamente essa necessidade de maior aprofundamento propondo o “círculo virtuoso” dos oito “erres” (reavaliar, reconceituar, reestruturar, redistribuir, relocalizar, reduzir, reutilizar, reciclar) em oposição aos ingênuos três “erres” (reduzir, reutilizar, reciclar), nos diz sobre o discurso midiático dominante:
“O ‘desenvolvimento sustentável’, invocado de forma encantatória em todos os programas políticos, ‘tem como única função’, precisa Hervé Kempf, ‘conservar os lucros e evitar a mudança de hábitos quase sem alterar o rumo’ (e Kempf acrescenta: ‘Mas são os lucros e os hábitos que nos impedem de mudar o rumo’). Falar de um ‘outro’ desenvolvimento, como se fala de um ‘outro’ crescimento, traduz ou uma grande ingenuidade, ou uma grande duplicidade.”4
Além disso, segundo o relatório WWF 2006, um único país preenche os critérios de um desenvolvimento sustentável: críticas políticas à parte, Cuba!
A questão não se resume a ponderar sobre de qual marca, mais ou menos ambientalmente responsável, consumir. Não basta ser possível construir um shopping de acordo com os princípios da permacultura. O que é preciso é racionalizar a própria questão de se construir um shopping e de se consumir. Devemos nos perguntar: A construção ou o consumo em questão é realmente necessário? De acordo com que idéia se faz necessário? Que princípios e interesses a suportam? Estamos levando em consideração todos os impactos dessa ação? Porquê e para quê? Os interesses de todas as formas de vida afetadas por essa ação estão sendo consideradas, sejam elas humanas ou não humanas?
Por outro lado, tanto o formular quanto o tentar responder dessas questões mostra-se ardiloso tida a visão de realidade fragmentada com mencionado anteriormente. É aqui que se insere a questão da educação. É aqui que se faz necessário transpor o processo educacional como simples adestramento técnico/cognitivo fundamentado exclusivamente em uma realidade artificial e alcançar um “ensino para a vida e por meio da vida”.
Antes de mais nada é preciso aceitar a “natureza não-natural” do que concebemos como educação não-primitiva, ou educação como mediação educando-educador dentro de um ambiente institucional. O processo de aprendizagem requer, em seu estado natural e não-autoritário (admitindo qualquer processo educacional que fuja das seguintes qualificações como pontencialmente violento), o despertar do interesse e curiosidade pelo assunto em questão. Tal despertar só é naturalmente alcançado uma vez que o indivíduo reconhece e aceita determinado conhecimento com importante e necessário à sua vida. Apenas após admitida essa “natureza não-natural”, seremos capazes de repensar em devidos ares o processo educacional. Criar, a partir de então, um novo modelo em que a interdisciplinariedade esteja impregnada, não como um simples fim, mas como meio de permitir que cheguemos a um ponto futuro no qual a luta constante para despertar artificialmente nos alunos interesse por conhecimentos ditados como importantes não seja mais necessária. Onde o termo aluno não terá mais sentido em ser usado e estes novos indivíduos serem respeitados e não-subestimados o suficiente para serem confiados com a tarefa de decidirem por sí próprios a que conhecimentos dar atenção.
Vivemos em uma sociedade esquizofrênica e hipócrita. Não confiamos em nossas crianças para decidir por elas mesmas por que conhecimentos se interessar, mas continuamos a trabalhar em prol dos valores e ideais que denunciamos ser o foco errôneo de atenção das mesmas. “Irônica e contraditória, nossa voz denuncia a modernidade em nome dos valores que a própria modernidade criou.”
Segundo Latouche:
“Todos os regimes modernos foram produtivistas: repúblicas, ditaduras, sistemas totalitários, fossem seus governos de direita ou de esquerda, liberais, socialistas, populistas, social-liberais, socialdemocratas, centristas, radicais, comunistas. Todos propuseram o crescimento econômico como uma pedra angular inquestionável de seu sistema. A mudança indispensável de rumo não é daquelas que uma simples eleição poderia resolver instituindo um novo governo ou votando a favor de outra maioria. O que é necessário é bem mais radical: uma revolução cultural, nem mais nem menos, que deveria culminar numa refundação do político.”
Talvez, na verdade, o problema resida no próprio caráter utilitarista unilateral do gerenciamento das intituições educacionais (a finalidade do processo é determinada prévia e exclusivamente pelo gestor, sem levar em consideração os participantes, geralmente passivos –i.e. alunos – do processo). Talvez o discurso por uma educação eficiente e responsável não passe de um análogo complementar ao discurso encontatório de desenvolvimento sustentável. A Escola da Ponte5 já mostra há algumas décadas que uma reformulação nesse sentido é possível.
É nesse sentido que o grupo BioLógico pretende caminhar.

¹ http://www.youtube.com/watch?v=2VqFQUSMZkA

² http://www.youtube.com/watch?v=p4Kp0HK2wp4

http://www.youtube.com/watch?v=BAk_Ws8d68c&feature=related

³ “Enquanto Paulo Freire e seus seguidores pensavam na possibilidade de uma pedagogia do oprimido, Ivan Illich denunciava a opressão da pedagogia, apontando para a necessidade de desescolarizar as instituições do saber e também a sociedade”

4 De acordo com a proposta de Decrescimento Sereno de Latouche, os próprios
conceitos de desenvolvimento e crescimento devem ser repensados.

5 http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_da_Ponte
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/jose-pacheco-escola-ponte-479055.shtml
http://4pilares.net/text-cont/pacheco-escoladaponte.htm
http://www.escoladaponte.com.pt/

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